Ana Carolina Hespanha
Alguns destes agentes têm seu uso limitado na Medicina Veterinária devido aos seus efeitos colaterais, por este motivo, é considerada a classe de medicamentos mais envolvida em intoxicações de pequenos animais. O diclofenaco se encaixa dentre estes medicamentos, sendo contraindicado para cães e gatos.
Se ingerido, o mecanismo de ação do diclofenaco se deve à inibição das enzimas ciclooxigenases (COXs). As enzimas COX estão presentes em duas isoformas, COX-1 e COX-2. A inibição de COX-2 irá restringir os eventos vasculares da inflamação, tais como, aumento da permeabilidade vascular, edema, calor e rubor.
Concomitantemente ocorre a inibição da COX-1, enzima responsável pela liberação de prostaglandinas no trato gastrointestinal e nos rins, estas por sua vez, possuem papel protetor sobre a mucosa gástrica, reduzindo a produção de ácidos e aumentando a produção de muco pelas células epiteliais. Portanto a inibição de COX-1 irá reduzir a síntese de prostaglandinas, e trará como efeitos adversos: gastrite, úlceras e hemorragia gástrica. Nos rins a inibição da COX-1 irá ocasionar o aparecimento de lesões renais e/ou insuficiência renal.
Vale ressaltar que devido às úlceras gástricas, o animal poderá apresentar quadros de êmese (vômito), hemorragia gástrica, melena (sangue digerido nas fezes), letargia, fraqueza, anorexia e dor abdominal. Em casos mais graves, o animal pode apresentar anemia, devido à perda de sangue excessiva decorrente da úlcera.
Um estudo realizado no ano de 1997 utilizando quatro cães, contatou-se que a administração de 1 comprimido de diclofenaco foi suficiente para causar danos a mucosa gástrica logo no segundo dia. Ao sétimo dia o estado dos animais era tão grave que todos vieram a óbito.
Não há o tratamento especifico para intoxicações por diclofenaco, a terapia realizada é o que chamamos de tratamento suporte, ou seja, tratamos as manifestações clinicas que os animais apresentam. Por exemplo, no caso do animal estar desidratado devido ao vômito e diarreia é administrado a fluidoterapia e antiemético, este para controlar a êmese. Como sabemos que o diclofenaco atinge diretamente a mucosa estomacal podemos administrar medicamentos que protegem a mucosa. Em casos graves, como em perfurações gástricas é necessária a intervenção cirúrgica de emergência.
Assim, fica claro, que a administração de um medicamento de uso comum na Medicina pode acarretar sinais gravíssimos em cães e gatos. A fisiologia dos animais tem muitas diferenças quando comparadas aos humanos, e o único profissional que pode receitar qualquer medicamento para seu animal, seja ele cão ou gato, é o Médico Veterinário, assim, nunca administre qualquer droga sem a supervisão de seu veterinário de confiança.
CORREA V.P., Stopiglia A.J. & Matushima E.R. 1997. Alterações gastrintestinais em cães com a utilização do diclofenaco sódico. Clin. Vet. 2:18-20.
Revisão e Correção: M.V. Daniel Angrimani