9 de maio de 2012

Não sabe o que tem? Dê Voltaren? Melhor não!

Por
Ana Carolina Hespanha
Aluna do 9º semestre de Medicina Veterinária da UENP-CLM 

Os agentes anti-inflamatórios não esteroidais são amplamente utilizados na Medicina para o tratamento de dores crônicas, agudas ou inflamações pós-operatórias e pós-traumáticas, levando a analgesia e diminuindo a reação inflamatória e o edema nos pacientes.
Alguns destes agentes têm seu uso limitado na Medicina Veterinária devido aos seus efeitos colaterais, por este motivo, é considerada a classe de medicamentos mais envolvida em intoxicações de pequenos animais. O diclofenaco se encaixa dentre estes medicamentos, sendo contraindicado para cães e gatos.
O diclofenaco é um anti-inflamatório não hormonal derivado do ácido fenilacético. Suas apresentações comerciais mais conhecidas são o Cataflam® (diclofenaco potássico) e o Voltaren® (diclofenaco sódico).
Se ingerido, o mecanismo de ação do diclofenaco se deve à inibição das enzimas ciclooxigenases (COXs). As enzimas COX estão presentes em duas isoformas, COX-1 e COX-2. A inibição de COX-2 irá restringir os eventos vasculares da inflamação, tais como, aumento da permeabilidade vascular, edema, calor e rubor.
Concomitantemente ocorre a inibição da COX-1, enzima responsável pela liberação de prostaglandinas no trato gastrointestinal e nos rins, estas por sua vez, possuem papel protetor sobre a mucosa gástrica, reduzindo a produção de ácidos e aumentando a produção de muco pelas células epiteliais. Portanto a inibição de COX-1 irá reduzir a síntese de prostaglandinas, e trará como efeitos adversos: gastrite, úlceras e hemorragia gástrica. Nos rins a inibição da COX-1 irá ocasionar o aparecimento de lesões renais e/ou insuficiência renal.
Vale ressaltar que devido às úlceras gástricas, o animal poderá apresentar quadros de êmese (vômito), hemorragia gástrica, melena (sangue digerido nas fezes), letargia, fraqueza, anorexia e dor abdominal. Em casos mais graves, o animal pode apresentar anemia, devido à perda de sangue excessiva decorrente da úlcera.
Um estudo realizado no ano de 1997 utilizando quatro cães, contatou-se que a administração de 1 comprimido de diclofenaco foi suficiente para causar danos a mucosa gástrica logo no segundo dia. Ao sétimo dia o estado dos animais era tão grave que todos vieram a óbito.
Não há o tratamento especifico para intoxicações por diclofenaco, a terapia realizada é o que chamamos de tratamento suporte, ou seja, tratamos as manifestações clinicas que os animais apresentam. Por exemplo, no caso do animal estar desidratado devido ao vômito e diarreia é administrado a fluidoterapia e antiemético, este para controlar a êmese. Como sabemos que o diclofenaco atinge diretamente a mucosa estomacal podemos administrar medicamentos que protegem a mucosa. Em casos graves, como em perfurações gástricas é necessária a intervenção cirúrgica de emergência.
Assim, fica claro, que a administração de um medicamento de uso comum na Medicina pode acarretar sinais gravíssimos em cães e gatos. A fisiologia dos animais tem muitas diferenças quando comparadas aos humanos, e o único profissional que pode receitar qualquer medicamento para seu animal, seja ele cão ou gato, é o Médico Veterinário, assim, nunca administre qualquer droga sem a supervisão de seu veterinário de confiança.

Referência: BARBOSA C.M. et al.; Avaliações hematológicas e bioquímicas do uso de diclofenaco de sódio, meloxicam e firocoxibe em ratos. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 47,  n. 2,  p. 118-126, 2010.

CORREA V.P., Stopiglia A.J. & Matushima E.R. 1997. Alterações gastrintestinais em cães com a utilização do diclofenaco sódico. Clin. Vet. 2:18-20.  
FOSSUM. T.W. Ulceracion gastrica. Cirurgia de Pequeños Animales. Editora Elsevier. 3ª edição, p. 313 – 316, 2008.
SPINOSA, H.S. et al. Toxicologia dos medicamentos. Toxicologia aplicada à Medicina Veterinária. Editora Manole, 1ª edição, p. 117-190, 2008.
VIANA, F.A.B. et al. Antiinflamatórios não hormonais e drogas similares. Fundamentos de Terapêutica Veterinária. UFMG. P. 71-78, 2000.

Leitura Adicional: 



Revisão e Correção: M.V. Daniel Angrimani
Mestrando em Reprodução Animal (FMVZ-USP)
São Paulo - SP